(resumido)
C.W.Leadbeater
Tradução de
Ricardo A. Frantz
Este livro pode ser reproduzido
livremente, desde que para fins não comerciais,
e desde que seja citada a
fonte: www.theosophical.ws
Não pode ser negado que do ponto de vista teosófico o assunto de nossas relações com as crianças é de inexcedível importância prática. Percebendo, como deveríamos, o propósito pelo qual o Ego (o eu relativamente permanente, não a personalidade) desce à encarnação, e sabendo tão profundamente que a consecução daquele objetivo depende do treinamento dado aos seus vários veículos durante sua infância e crescimento, não podemos senão sentir, se ponderarmos nisso, que uma tremenda responsabilidade recai sobre todos nós que de algum modo estamos ligados a crianças, seja como pais, parentes mais velhos, ou professores. É bom, portanto, que consideremos quais sugestões a Teosofia pode nos dar para que melhor nos desobriguemos desta responsabilidade.
Pode parecer presunçoso que um solteiro se aventure a oferecer sugestões a pais sobre um assunto que é tão específico deles; assim eu devo, talvez, prefaciar estas recomendações que desejo dar dizendo que, ainda que eu próprio não tenha gerado nenhuma criança, sempre tive grande simpatia por elas, e estive em estreita relação com elas ao longo de quase toda a minha vida – por muitos anos como professor de uma escola dominical, depois como clérigo, administrador de escola e preparador de coro, e como diretor de uma grande escola de meninos. Assim é que eu, de todo modo, falo de uma experiência longa e prática, e não meramente teorizo.
Antes de fazer sugestões, entretanto, eu gostaria de chamar a atenção à atual condição de nosso relacionamento com crianças no ambiente da civilização européia. Nossas crianças olham as pessoas adultas (em sua maioria) com uma hostilidade muito mal disfarçada, ou, na melhor das hipóteses, com uma espécie de neutralidade armada, e sempre com profunda desconfiança, como se fossem estrangeiros cujos motivos lhe são incompreensíveis, e cujas ações estão perpetuamente interferindo do modo mais injustificável e aparentemente malicioso no seu direito de se divertirem à sua própria maneira. Eu recomendaria encarecidamente a cada pai que lesse The Golden Age (A Idade Dourada), de Kenneth Grahame; ele apresenta o ponto de vista das crianças melhor do que qualquer outro livro que eu conheça.
Muitas vezes o homem, ou mulher, pensa nas crianças apenas como sendo barulhentas, sujas, famintas, desajeitadas, egoístas e geralmente impertinentes; e nunca percebe que pode haver uma boa dose de egoísmo neste seu ponto de vista, e que se alguma parcela de seu juízo for verdadeira, a culpa não terá sido tanto das próprias crianças mas da maneira irracional com que têm sido criadas; mais ainda, que em qualquer caso seu dever não é alargar ainda mais o abismo entre elas e ele mesmo adotando uma atitude de aversão ou desconfiança, mas é antes procurar melhorar o estado das coisas com uma gentileza sábia e afetuosa, amizade paciente e simpatia.
Seguramente há algo errado em relações tão insatisfatórias; seguramente alguns melhoramentos poderiam ser feitos nessa condição deplorável de hostilidade mútua e desconfiança. É claro, há honrosas exceções – há crianças que confiam em seus professores e professores que confiam em seus alunos, e eu mesmo jamais encontrei qualquer dificuldade em ganhar a confiança dos jovens ao tratá-los adequadamente; mas em um número infelizmente grande de situações o caso se apresenta como descrevi.
Que isso não precisaria ser assim é evidenciado não só pelas exceções mencionadas acima, mas também pelas condições que encontramos existindo em algumas regiões orientais. Eu ainda não tive o prazer de visitar o Japão, mas ouço dos que lá já estiveram e fizeram alguma pesquisa nesse assunto, que não há país no mundo onde as crianças sejam tratadas tão bem e com tanta sensibilidade – onde suas relações com os mais velhos são as mais completamente satisfatórias. A aspereza, dizem, é completamente desconhecida, e as crianças de modo algum se prevalecem da gentileza dos mais velhos. Na Índia e no Ceilão também, de modo geral, as relações entre crianças e adultos são certamente mais racionais que as costumeiras na Inglaterra, ainda que eu tenha ocasionalmente visto lá situações de severidade indevida, que mostram que estes países ainda não atingiram um nível tão alto como o Japão neste assunto.
Sem dúvida isso é em parte devido a diferenças de raça. A criança oriental geralmente não tem o espírito irrefreavelmente animalesco e a intensa vitalidade física de seus representantes ingleses, nem tem a sua profunda aversão ao esforço mental. Por estranho e incompreensível que isso possa soar aos ouvidos de um escolar britânico, a criança indiana é realmente ávida de aprender, e sempre está disposta a fazer qualquer quantidade de trabalho escolar extra-classe a fim de progredir mais rapidamente. Não é injusto, a respeito do menino inglês comum, afirmar que ele considera a brincadeira como a parte mais importante de sua vida, e vê as lições nitidamente como um aborrecimento que deve ser evitado o mais possível, ou talvez como uma espécie de jogo que ele tem que jogar contra o professor. Se este é capaz de fazê-lo aprender qualquer coisa, é um ponto para o lado da autoridade: mas se o aluno de algum jeito puder escapulir sem assistir à aula, então o ponto é dele. No oriente uma tal criança seria uma exceção e não a regra; a maioria delas está realmente ansiosa de aprender, e cooperar inteligentemente com seu professor em vez de oferecer-lhe uma resistência constante, ainda que passiva.
Talvez se eu relatar um pequeno incidente que testemunhei mais de uma vez no Ceilão, isso possa auxiliar meus leitores a entender quão diferente de fato é a atitude da criança de uma raça oriental. Leitores de As Mil e Uma Noites lembrarão o quão constantemente acontece de estar algum rei ou outra autoridade concedendo audiência, e um transeunte casual – talvez um porteiro ou um mendigo – adentra o recinto e oferece sua opinião no assunto em julgamento, e é polidamente ouvido, em vez de ser sumariamente preso ou expulso da sala por tal quebra de protocolo.
Por impossível que isso nos pareça, é sem dúvida absolutamente verdadeiro, e em escala menor esse tipo de coisa ainda ocorre em nossos dias, como eu próprio tenho visto. Aconteceu-me, no decorrer de meu trabalho, de viajar entre as vilas do Ceilão, tentando induzir seus habitantes a apreciar as vantagens da educaçção, e a fundar escolas nas quais suas crianças pudessem ser ensinadas sistematicamente sobre sua própria religião em vez de serem entregues ou à instrução mais informal dos monges nas pansalas [residência dos monges – NT] , ou aos esforços proselitistas dos missionários cristãos.
Ao chegar numa vila, indaguei por seu chefe, e pedi-lhe que convocasse os habitantes para ouvir o que eu tinha a dizer; e depois da comunicação os líderes locais comumente se reuniam num tipo de conselho, para decidir onde e como sua escola deveria ser construída e como eles poderiam se preparar melhor para o trabalho. Tal conselho era geralmente reunido na varanda da casa do chefe local, ou sob alguma grande árvore nas cercanias, com todo o povo da vila reunido em torno dos debatedores.
Mais de uma vez em tais ocasiões eu vi um menininho de dez ou doze anos postar-se respeitosamente diante das grandes autoridades de seu pequeno mundo, e sugerir, com deferência, que se a escola fosse erguida em tal lugar proposto seria por demais inconveniente para tais e tais crianças assistir às aulas; e em em todos os casos o menino foi tratado exatamente como um adulto teria sido, as autoridades locais ouvindo cortês e pacienciosamente, e dando o devido peso aos argumentos do jovem. O que aconteceria se na Inglaterra um pequeno filho de camponês oferecesse publicamente sugestões aos próceres da região reunidos em assembléia solene, dificilmente alguém pode imaginar; provavelmente a expulsão da criança seria sumária e desagradável; mas de fato a situação é absolutamente impensável sob as nossas condições presentes – o que é deplorável!
Mas como, pode ser perguntado, se propõe que essa situação de mútua desconfiança e mal-entendido deveria ser melhorada? Bem, é evidente que nos casos onde este hiato já exista, ele poderá ser transposto somente com uma invariável delicadeza, e com esforços graduais, pacientes e constantes em direção a promover um melhor entendimento através de invariável demonstração de afeto altruísta e de simpatia; de fato, habituando-nos a nos colocarmos no lugar da criança e tentando perceber exatamente o modo como essa questão aparece a elas. Se nós, que somos adultos, não tivermos ainda esquecido inteiramente nossa própria infância, faremos muitas mais concessões às crianças de hoje, e as entenderemos e lidaremos com elas muito melhor.
Este é, entretanto, muito nitidamente um dos casos em que velhos ditados funcionam, quando se diz que prevenir é melhor que remediar. Se tivermos o pequeno incômodo de iniciar com o passo certo com nossas crianças, facilmente seremos capazes de evitar o indesejável estado de coisas que acabamos de descrever. E aqui é exatamente onde a Teosofia tem sugestões valiosas a oferecer àqueles que desejam seriamente cumprir para com os jovens o dever que lhes foi confiado.
É claro, a natureza absoluta deste dever dos pais e professores em relação às crianças deve antes de tudo ser reconhecido. Não podemos insistir com maior força ou maior freqüência que a paternidade é uma responsabilidade extraordinariamente pesada, de uma natureza religiosa, por mais leviana e inconscientemente que seja desempenhada. Aqueles que trazem uma criança para o mundo se fazem diretamente responsáveis perante a lei do karma pelas oportunidades de evolução que eles devem oferecer àquele Ego, e pesada em verdade será sua penalidade se por negligência ou egoísmo forem postos impedimentos em seu caminho, ou falharem em lhe dar toda a ajuda e orientação que ela tem todo o direito de esperar deles. Mesmo assim quão amiúde os pais modernos ignoram responsabilidade tão óbvia; quantas vezes a criança para eles é apenas origem de tola vaidade ou objeto de negligência irrefletida!
Agora, se queremos entender nosso dever para com a criança devemos primeiro considerar como ela veio a ser o que é – isto é, devemos seguí-la em pensamento até sua prévia encarnação. Mais ou menos mil e quinhentos anos atrás seu filho foi talvez um cidadão romano, talvez um filósofo em Alexandria, talvez um primitivo bretão; mas quaisquer que tenham sido suas circunstâncias externas, ele teve uma constituição própria definida – um caráter contendo diversas qualidades mais ou menos desenvolvidas, algumas boas e outras más.
No devido tempo aquela sua vida chegou ao fim; mas lembremos que de qualquer modo que aquele fim tenha chegado, lentamente por doença ou senilidade, ou com rapidez por algum acidente ou violência, este evento não provocou nenhuma mudança súbita de nenhum tipo em seu caráter. Um curioso equívoco parece prevalecer em muitos lugares, o de que o mero fato de morrer transforma de imediato um demônio num santo – que, qualquer que possa ter sido a vida de um homem, no momento em que ele morre se torna praticamente um anjo de bondade. Nenhuma idéia poderia estar mais longe da verdade, como sabem muito bem aqueles cuja linha de trabalho está no auxílio aos desencarnados. Abandonar o corpo físico não altera sua disposição mais do que a altera tirar seu casaco; ele é precisamente o mesmo homem no dia seguinte à sua morte do que foi no dia anterior a ela, com os mesmos vícios e as mesmas virtudes.
Na verdade, agora que ele está funcionando somente no plano astral ele não tem as mesmas oportunidades de demonstrá-las; mas ainda que as manifeste na vida astral de um modo muito diferente, elas estão ainda lá, e as condições e duração desta vida astral são seu resultado. Neste plano ele deve permanecer até que a energia ativada por seus desejos e emoções inferiores durante a vida física tenha se esvaído – até que o corpo astral que construiu para si mesmo tenha se desintegrado; pois só então ele poderá deixá-lo para adentrar as paragens mais elevadas e pacíficas do mundo celestial. Mas ainda que aquelas paixões particulares estejam por enquanto esmorecidas e extintas, os germes nele daquelas qualidades, os que as tornaram passíveis para ele de existir em sua natureza, ainda estão lá. Eles estão latentes e inativos, com certeza, porque desejos de tal espécie requerem matéria astral para sua manifestação; é o que Madame Blavatsky uma vez chamou de “privação de meio”, mas eles estão muito prontos a entrar em atividade renovada, se estimulados, quando o homem novamente se encontrar sob condições onde eles possam agir.
Uma analogia poderá, talvez, se não a levarmos muito longe, ser de utilidade ajudando-nos a captar essa idéia. Se um pequeno sino fosse posto a tocar continuamente dentro de um recipiente hermeticamente fechado, e o ar fosse retirado pouco a pouco, o som se tornaria cada vez mais fraco, até ficar inaudível. O sino ainda estaria tocando tão vigoroso quanto antes, ainda que sua vibração não pudesse mais se manifestar aos nossos ouvidos, porque o meio somente pelo qual pode produzir qualquer efeito sobre eles está ausente. Introduza-se de novo o ar dentro do recipiente, e de imediato ouviremos o som da sineta exatamente como antes.
Similarmente, há certas qualidades na natureza do homem que necessitam de matéria astral para sua manifestação, como o som precisa ou do ar ou de alguma matéria mais densa para ser veiculado; e então, no processo de retirar-se para dentro de si mesmo depois daquilo que chamamos morte, ele deixa o plano astral e passa ao mental, aquelas qualidades não podem mais ter expressão, e devem com isso forçosamente permanecer latentes. Mas quando, séculos mais tarde, no seu curso descendente para a reencarnação ele volta ao plano astral, essas qualidades que ficaram inativas por tanto tempo se manifestam uma vez mais e se tornam tendências da nova personalidade.
Igualmente há qualidades mentais que precisam para sua expressão de matéria dos planos mentais inferiores; e quando, passado seu longo repouso no mundo celestial a consciência do homem se retira para dentro de seu verdadeiro Ego nos planos mentais superiores, essas qualidades também entram em latência.
Mas quando o Ego está prestes a reencarnar, ele tem que reverter esse processo de introspecção – e descer através dos mesmíssimos planos por onde subiu em sua jornada ascendente. Quando o tempo de sua manifestação chega, posta-se primeiro nos níveis inferiores de seu próprio plano, e procura expressar-se lá até o máximo que lhe seja possível naquela matéria menos perfeita e menos plástica.
A fim de que possa expressar-se e funcionar naquele plano ele deve revestir-se da matéria do plano, como o fazem as entidades das sessões espíritas, que quando desejam mover objetos físicos, materializam temporariamente uma mão física pela qual atuam, ou de qualquer modo, empregam forças físicas de algum tipo para produzir seus resultados. Não é de modo algum necessário que tal mão seja materializada o suficiente para ser visível à nossa embotada visão normal. Mas para produzir um resultado físico deve haver materialização em alguma medida – pelo menos até o nível etérico.
Assim o Ego agrega ao redor de si matéria dos planos mentais inferiores – a matéria que depois se tornará seu corpo mental. Mas essa matéria não é recolhida ao acaso; ao contrário, desse reservatório tão variado e inesgotável em seu redor ele atrai a si apenas uma combinação tal que seja perfeitamente adequada para dar expressão às suas qualidades mentais latentes. Exatamente da mesma forma, quando ele desce mais um pouco até o plano astral, a matéria daquele plano que é pela lei natural atraída a ele para servir como seu veículo naquele mundo, é exatamente aquela que dará expressão aos desejos que foram seus no encerramento de sua última vida. De fato, ele reassume sua vida em cada plano exatamente do jeito que a deixou na última vez.
Observe-se que aquelas não são de modo nenhum qualidades ativas; são simplesmente os germes de qualidades, e por ora sua única influência é assegurar para si mesmos um possível campo de manifestação, provendo matéria adequada para sua expressão nos vários veículos da criança. Se eles virão a se desenvolver uma vez mais nesta vida como as mesmas tendências definidas da vida anterior, dependerá amplamente do estímulo ou repressão dado a eles pelo ambiente da criança durante seus primeiros anos. Qualquer um deles, os bons ou os maus, podem ser prontamente chamados à atividade pelo estímulo, ou de outra forma podem ser, digamos, atrofiados na carência daquele estímulo. Se encorajados, tornam-se na vida atual do homem um fator mais poderoso do que na existência anterior; se reprimidos, passam toda a vida meramente como germes não frutificados, e não aparecem mais na encarnação subseqüente.
Esta é, pois, a condição da criança quando recém chega aos cuidados de seus pais. Não pode ser dito que já possua um corpo mental ou um corpo astral definidos, mas ela tem em torno e dentro de si a matéria da qual serão construídos.
Ela possui tendências de todos os tipos, algumas delas boas e outras más, e é de acordo com o desenvolvimento dessas tendências que aquela construção será regulada. E esse desenvolvimento por sua vez depende quase inteiramente das influências que lhe chegam de fora durante os breves primeiros anos de sua vida.
É simplesmente impossível exagerar a plasticidade desses corpos não formados. Nós sabemos que o corpo físico de uma criança, se seu treinamento já iniciar em uma idade suficientemente precoce, pode ser modificado em considerável extensão. Um acrobata, por exemplo, tomará um menino de cinco ou seis anos, cujos ossos e músculos não estão ainda tão enrijecidos e firmemente definidos como os nossos, e gradualmente acostumará seus membros e corpo para assumirem confortavelmente todos os tipos de posturas, que seriam absolutamente impossíveis para a maioria de nós mesmo com qualquer quantidade de treino. Pois nossos próprios corpos na mesma idade não diferiam em nenhum ponto essencial em relação ao daquele menino, e se lhes tivessem sido propostos os mesmos exercícios teriam se tornado tão flexíveis e elásticos como o seu, mas agora que já se estabilizaram definitivamente nenhum esforço que pudéssemos fazer, por mais continuado que fosse, poderia lhes dar a mesma cômoda flexibilidade.
Agora, se o corpo físico da criança é assim tão plástico e prontamente impressionável, seus veículos astral e mental o são muito mais. Eles estremecem em resposta a cada vibração que encontram, e são avidamente receptivos a respeito de todas as influências, sejam boas ou más, que que emanam daqueles em seu redor. E eles se assemelham ao corpo físico ainda em outra característica – que se em tenra idade eles são tão suscetíveis e tão facilmente moldados, eles muito rápido se definem e enrijecem e adquirem hábitos definidos, que uma vez firmemente estabelecidos podem ser alterados só com grande dificuldade.
Quando compreendemos isso, vemos de imediato a extrema importância do ambiente no qual uma criança passa sua primeira juventude, e a pesada responsabilidade que recai sobre cada pai em procurar que as condições do desenvolvimento da criança sejam as melhores possíveis dentro de suas possibilidades. A pequena criatura é como argila em suas mãos, moldável quase à sua inteira vontade; constantemente os germes das boas ou más qualidades trazidos de sua encarnação precedente vão despertando à atividade; constantemente estão sendo construídos aqueles veículos que condicionarão o conjunto de sua vida após a morte; e cabe a nós despertar o germe do bem, e sufocar o germe do mal. Em uma extensão maior do que é percebida em qualquer momento mesmo pelos pais mais dedicados, o futuro da criança está sob seu controle.
Pense em todos os amigos que você conhece tão bem, e tente imaginar que esplêndidos exemplos da humanidade eles seriam se todas as suas boas qualidades fossem enormemente intensificadas, e todas as características menos estimáveis absolutamente extirpadas de seus caracteres.
Este é o resultado que está em seu poder produzir em seu filho se você cumprir plenamente suas obrigações para com ele; você pode torná-lo num tal exemplo de homem se você apenas der-se ao trabalho.
Mas como? você dirá; através de conselhos? pela educação? Sim, realmente, muito pode ser feito nesse sentido quando chega a hora; mas um outro e muito maior poder do que este está em suas mãos – um poder que você pode começar a exercitar desde o momento do nascimento da criança, e mesmo antes disso; é o poder da influência de sua própria vida. Em alguma medida isso é reconhecido, pois a maioria das pessoas civilizadas são cuidadosas com suas palavras e atos na presença de uma criança, e seria um pai muito degenerado aquele que permitisse seu filho ouvi-lo usar linguagem violenta, ou vê-lo dar vazão a um ímpeto de paixão; mas o que o homem não percebe é que se ele deseja evitar fazer o mais sério dano a seus pequenos, ele deve aprender a controlar não só suas palavras e ações, mas também seus pensamentos. É verdade que você não pode ver imediatamente o efeito pernicioso de um mau pensamento ou desejo sobre a mente de seu filho, mas ele está lá de qualquer maneira, e é mais real e mais terrível, mais insidioso e de muito maior alcance que o dano que é óbvio aos olhos físicos.
Se um pai se permite cultivar sentimentos de raiva ou ciúme, inveja ou avareza, ou egoísmo ou orgulho, mesmo que jamais lhes dê expressão externa, as vibrações que ele causa com isso em seu próprio corpo de desejo estão certamente agindo todo o tempo sobre o plástico corpo astral de sua criança, afinando suas vibrações ao mesmo tom, despertando à atividade quaisquer germes dessas faltas que podem ter sido trazidos de sua vida passada, e dispondo também nela a mesma gama de maus hábitos, que uma vez estando formados definidamente serão extraordinariamente difíceis de corrigir. E isso é exatamente o que está sendo feito no caso da maioria das crianças que vemos ao nosso redor.
Do modo como se apresenta a um clarividente, a aura da criança é amiúde um objeto da maior beleza – puro e brilhante em suas cores, livre, ainda, das manchas da sensualidade e avareza e da espessa nuvem de má vontade e egoísmo que tão freqüentemente ensombrecem toda a vida do adulto. Nela são vistos em estado latente todos os germes e tendências de que falamos – alguns deles maus, outros bons, e assim as possibilidades da vida futura da criança mostram-se nítidas ante o olho do observador.
Mas como é triste de ver a mudança que quase sempre acontece naquela adorável aura infantil à medida que os anos se adiantam – notar quão persistentemente as más tendências são ressuscitadas e reforçadas pelo seu ambiente, e como as boas são negligenciadas por completo! E então, as encarnações sucessivas são praticamente desperdiçadas, e uma vida que, com apenas um pouco mais de cuidado e autocontrole da parte de pais e professores, poderia ter dado ricos frutos de desenvolvimento espiritual, reduz-se a quase nada, e ao findar mal deixa magra colheita para ser armazenada no Ego, do qual tem sido tão pobre expressão.
Quando alguém observa o descuido criminoso com o qual aqueles que são responsáveis pela criação de crianças permitem que sejam perpetuamente circundadas por todo tipo de pensamentos maus e mundanos, cessa de se admirar da extraordinária lentidão da evolução humana, e do progresso quase imperceptível que é tudo o que o Ego pode expressar despendidas vida após vida nas fadigas e lutas deste mundo inferior. Mas com apenas um pouco mais de trabalho que vasto melhoramento poderia ser introduzido!
Não é preciso nenhuma visão astral para ver que mudança ocorreria neste velho mundo cansado se a maioria, ou mesmo uma grande parte da próxima geração, fosse submetida ao processo sugerido acima – se todas as suas más qualidades fossem reprimidas e deixadas atrofiarem por falta de alimento, enquanto todo o bem neles fosse assiduamente cultivado e desenvolvido até sua máxima extensão. Temos somente que pensar no que eles fariam por suas crianças, em vez, para perceber que em duas ou três gerações todas as condições de vida seriam muito diferentes, e uma verdadeira idade dourada teria início. Para o mundo em geral esta idade pode ainda estar distante, mas seguramente nós que somos membros da Sociedade Teosófica devemos cada um fazer o máximo para apressar sua chegada: e mesmo que a influência de nosso exemplo possa não ir muito longe, está pelo menos em nosso poder cuidar que nossa próprias crianças tenham para seu desenvolvimento todas as vantagens que possamos lhes proporcionar.
O maior cuidado, pois, deve ser tomado quanto ao ambiente das crianças. Pessoas que persistem em pensar coisas grosseiras e desamorosas deveriam pelo menos aprender que enquanto o fazem são inadequadas para estar perto dos jovens, podendo infectá-las com uma doença mais virulenta que a febre. É preciso muito cuidado, por exemplo, na escolha das babás às quais as crianças devem ser algumas vezes confiadas; ainda que seja óbvio que quanto menos forem deixadas nas mãos de empregadas, melhor. Babás freqüentemente desenvolvem a mais forte afeição pelas crianças que cuidam, e as tratam como se fossem de sua própria carne e sangue, e mesmo que não seja sempre o caso, e, mesmo o sendo, deveria ser lembrado que as empregadas são quase inevitavelmente menos educadas e menos refinadas que suas patroas, e que, por isso, uma criança que for deixada assiduamente em sua companhia fica constantemente submetida ao impacto de pensamentos que presumivelmente são de ordem ainda menos elevada que aqueles do nível usual de seus pais. Portanto a mãe que deseja que seu filho se torne um indivíduo refinado e de mente delicada deveria entregá-los a cuidados de outrem o menos possível, e deveria, acima de tudo, tomar grande cuidado com seus próprios pensamentos enquanto lida com seu filho.
Sua regra maior e principal deveria ser não permitir-se abrigar nenhum pensamento e nenhum desejo que ela não desejaria ver reproduzidos em seu filho. Mas essa conquista meramente negativa sobre si mesma não é tudo, pois, felizmente, tudo o que foi dito sobre a influência e poder do pensamento é verdadeiro sobre os bons pensamentos exatamente como sobre os maus, e por isso o dever dos pais tem um lado positivo e um negativo. Não só devem abster-se com o maior cuidado de despertar, por seus próprios pensamentos indignos ou egoístas, qualquer má tendência que possa haver em seu filho, mas é também seu dever cultivar em si mesmos uma afeição forte e altruísta, pensamentos puros, altas e nobres aspirações, a fim de que tudo isso possa reagir sobre ele, avivando todo o bem que já exista latente nele, e criar uma inclinação para qualquer boa qualidade que ainda não esteja presente em seu caráter.
Tampouco devem temer que tal esforço de sua parte falhe em seu efeito, porque são incapazes de seguir sua ação pela carência de visão astral. À vista de um clarividente treinado todo o processo é óbvio; ele distinguiria as vibrações dispostas no corpo mental do pai pela formação do pensamento, o veria irradiando-se adiante, e notaria a vibração semelhante criada por sua imposição sobre o corpo mental da criança: e se ele repetisse suas observações a intervalos durante um longo período, ele distinguiria o progresso da gradual mas permanente alteração produzida naquele corpo mental pela constante repetição do mesmo estímulo. Se os próprios pais possuíssem visão astral, lhes seria, sem dúvida, da maior valia ao revelar exatamente quais são as capacidades de seu filho, e em que direção ele mais precisa desenvolvimento; mas se eles ainda não têm essa vantagem, não é necessário, todavia, ter a mais leve dúvida ou objeção sobre o resultado, pois este deve seguir o esforço contínuo com certeza matemática, seja-lhes o processo de sua atuação visível ou não.
E não somente um pai deveria vigiar seus pensamentos, mas também seu temperamento. Uma criança rapidamente percebe e se ressente da injustiça; e se for repreendido uma vez por alguma ação que em outro momento causou apenas agrado, não admira que seu senso da invariabilidade das leis da natureza seja ultrajado! Também, quando problemas e tristeza acometem o pai, como neste mundo às vezes deve acontecer, é certamente seu dever tentar, tanto quanto possível, evitar que esta carga de amargura pese sobre as crianças tanto quanto sobre si mesmo; pelo menos quando em sua presença ele deveria fazer um esforço especial para ser amável e resignado, evitando que as escuras, pesadas cores da depressão se transmitam da sua aura para a delas.
Além disso, muitas vezes um pai bem intencionado têm uma natureza ansiosa e tagarela – está sempre se irritando a respeito de ninharias, e preocupando suas crianças e a si mesmo com assuntos que são de todo insignificantes. Se ele apenas pudesse observar clarividentemente o extremo desassossego e inquietude que assim provoca em sua aura, e pudesse ver também como essas vibrações introduzem uma agitação e irritação completamente desnecessárias nas auras suscetíveis de suas crianças, não se surpreenderia com seus ocasionais acessos de petulância ou excitabilidade nervosa, e perceberia que em tais casos ele é freqüentemente de longe mais culpado que elas. O que ele deveria mirar, e colocar diante de si como seu objetivo, é um espírito pacífico e inabalável – ‘a paz que ultrapassa todo o entendimento’ – a calma perfeita que advém da certeza de que tudo no final ficará bem. É por demais óbvio que o treinamento do caráter dos pais que é requerido nestas considerações é em todos os aspectos esplêndido, e que neste auxílio à evolução de suas crianças eles também beneficiarão a si mesmos em uma extensão que é absolutamente incalculável, pois os pensamentos que a princípio foram despertados por esforço consciente pelo bem da criança muito logo se tornarão naturais e habituais, e com o tempo formarão o pano de fundo de toda a vida dos pais.
Não se deve supor que essas precauções possam ser relaxadas à medida que a criança cresce, pois ainda que a sensibilidade extraordinária à influência do ambiente se manifeste assim que o Ego desce sobre o embrião, algumas vezes até muito antes do nascimento ter lugar, ela continua na maior parte dos casos até perto da maturidade. Se influências tais como as acima sugeridas forem trazidas a pairar sobre ela durante a infância e meninice, a criança nos seus doze ou quatorze anos estará muito mais bem equipada para os esforços que encontrará à sua frente do que seus companheiros menos afortunados com quem nenhum cuidado especial foi tomado. Mas deve ser lembrado que ela ainda é muito mais impressionável que um adulto, e a mesma firme ajuda e orientação no plano mental deve ainda continuar a fim de que os bons hábitos tanto no pensamento como na ação não desfaleçam ante as novas tentações que provavelmente o assaltarão.
A RESPONSABILIDADE DO PROFESSOR
Ainda que em seus primeiros anos tenha sido naturalmente mais em seus pais que ela teve de buscar esse auxílio, tudo o que se disse dos seus deveres se aplica igualmente a qualquer um que entre em contato com crianças em qualquer área, e mais especialmente ainda àqueles que assumem as tremendas responsabilidades do professor. A influência de um professor sobre seus pupilos, para o bem ou para o mal, não pode ser prontamente medida, e (exatamente como antes) depende não só do que ele diz ou faz, mas - até mais - do que ele pensa. Muitos vezes o professor repetidamente reprova em suas crianças a exibição de tendências por cuja criação ele é diretamente responsável; se seu pensamento é egoísta ou impuro, então ele encontrará egoísmo e impureza refletidos em toda sua volta, e tampouco o mal causado por tal pensamento cessa com aqueles que afeta imediatamente.
As jovens mentes sobre as quais se reflete o incorporam e expandem e reforçam, de modo que por sua vez reage sobre outros e se torna uma tradição maldita transmitida de uma geração de crianças à outra. Felizmente uma boa tradição pode ser instituída quase tão facilmente quanto uma ruim – não tão facilmente, porque há sempre influências externas indesejáveis a serem levadas em conta; mas mesmo um professor que percebe suas responsabilidades e administra sua escola sobre estes princípios que foram sugeridos muito prontamente verá que seu autocontrole e sua devoção não foram infrutíferos.
Estou convencido de que só há um modo pelo qual ambos pais e professores podem realmente exercer efetiva influência sobre uma criança e extrair todo o melhor que há nela – ganhando seu amor e confiança. É verdade que a obediência pode ser conseguida à força e a disciplina preservada através do medo, mas regras impostas por tais métodos são mantidas apenas enquanto aquele que as impôs (ou alguém que o represente) esteja ali, e são invariavelmente quebradas quando não há o medo de um flagrante; a criança as mantém porque é obrigada, e não porque o queira fazer.
Mas se por outro lado sua afeição foi evocada, sua vontade imediatamente se coloca ao lado da regra; ela deseja mantê-la, porque sabe que quebrá-la causaria tristeza àquele que ela ama; e se este sentimento apenas for suficientemente forte, a capacitará a elevar-se acima de todas as tentações, e a regra será acatada não importa quem possa estar presente ou ausente. Assim o objetivo será não só muito mais integralmente, mas também muito mais fácil e prazerosamente atingido tanto pelo professor quanto pelo aluno, e todo o melhor lado da natureza da criança será chamado à atividade, em vez de o pior. Em vez de excitar a vontade da criança à teimosa e persistente oposição, o professor a conquistará para seu próprio lado na disputa contra distrações e tentações; e assim serão obtidos resultados que nunca poderiam ser atingidos no outro sistema.
É sempre da maior importância tentar entender a criança, e fazê-la sentir-se segura de nossa amizade e simpatia. Todo aparecimento de dureza deve ser cuidadosamente evitado, e deveria sempre ser integralmente explicada a razão de todas as instruções dadas a ela. Na verdade devemos deixar claro a ela que algumas vezes emergências imprevistas surgirão quando as pessoas mais velhas não terão tempo de explicar suas instruções, e ela deveria entender que em tais casos ela deveria obedecer mesmo quando não puder entender direito; mas mesmo aí a explicação deve ser concedida posteriormente.
Pais ou professores desavisados amiúde cometem o erro de habitualmente exigir a obediência sem a compreensão – uma pretensão por demais irracional; na verdade eles esperam da criança em todas as ocasiões e sob quaisquer circunstâncias uma paciência angélica e uma quase santidade que eles mesmos estão deveras longe de possuir. Eles ainda não perceberam que a aspereza para com uma criança é sempre não só uma maldade, mas absolutamente irracional e também tola, uma vez que jamais pode ser o meio mais efetivo de obter dela o que se deseja.
Freqüentemente ocorre que as faltas da criança são o resultado direto do modo antinatural com que é tratada. Sensível e nervosa em alto grau, ela constantemente se vê incompreendida, e censurada ou maltratada por ofensas cuja torpeza ela sequer compreende; será de admirar que quando toda a atmosfera em seu redor cheira a impostura e falsidade dos mais velhos, seus temores a conduzam também às vezes para a mentira? Certamente em tal caso o karma do pecado recairá mais duramente sobre aqueles que, por sua brutalidade criminosa, colocaram um ser frágil e não desenvolvido em uma posição em que lhe é quase impossível evitá-lo. Se esperamos a verdade de nossas crianças, devemos primeiro praticá-la nós mesmos; devemos pensar verazmente bem como falar a verdade e agir com verdade, antes que possamos esperar ser fortes o suficiente para salvá-la do mar de falsidade e fraude que nos cerca de todos os lados. Mas se as tratarmos como seres racionais – se explicarmos paciente e completamente o que queremos delas, e lhes mostrarmos que não têm o que temer de nós – pois ‘o perfeito amor expulsa o medo’ – então não teremos nenhuma dificuldade com relação à honestidade.
Um equívoco curioso mas não de todo incomum é o de que as crianças jamais podem ser boas a não ser que sejam infelizes, que devem ser contrariadas a cada momento, e em hipótese alguma permití-las fazer as coisas a seu jeito em nada, porque quando estão se divertindo devem estar necessariamente numa condição de maldade desesperada! Por mais absurda e atroz que seja esta doutrina, muitas variedades dela ainda largamente prevalecem, e são responsáveis por uma vasta quantidade de crueldade e miséria desnecessária impudicamente infligidas” sobre pequenas criaturas cujo único crime foi o de serem naturais e felizes. Sem dúvida ‘natureza' entendida como que a infância deveria ser um tempo feliz, e não deveríamos poupar esforços para que assim fosse, pois nesse aspecto como em todos os outros, se contrariarmos a natureza nós o faremos por nossa conta e risco.
Será de auxílio em nosso trato com crianças se lembrarmos que elas também são Egos, que seus corpos físicos pequenos e frágeis são apesar de tudo apenas a circunstância do momento, e que em realidade nós todos somos quase da mesma idade. Nossa tarefa ao treiná-las é desenvolver somente aquilo de sua natureza inferior que vá cooperar com o Ego – o que a fará um canal melhor através do qual o Ego trabalhe. Muito tempo atrás, na idade dourada da antiga civilização Atlântida, a importância do ofício de professor de crianças era tão plenamente reconhecida que a ninguém era permitido assumi-lo a não ser o clarividente treinado, que poderia verificar as qualidades e capacidades latentes de seus alunos e poderia, portanto, trabalhar inteligentemente com cada um para desenvolver o que havia de bom nele, e corrigir o que era mau.
Num futuro distante pode ser que seja assim uma vez mais; mas esse tempo ainda está longe, e temos que fazer o melhor sob condições menos favoráveis. Já o afeto altruísta é um maravilhoso estimulador da intuição, e aqueles que realmente amam suas crianças raramente terão dificuldade em compreender suas necessidades; e uma observação minuciosa e persistente lhes dará, ainda que ao custo de muito mais trabalho, alguma aproximação da visão mais clara de seus predecessores atlanteanos. De qualquer modo, é uma valiosa tentativa, pois quando compreendemos nossa verdadeira responsabilidade em relação às crianças, seguramente pensaremos que não é trabalho demasiado grande se nos capacitar para desempenhá-la melhor.
Uma palavra deve ser dita em conclusão sobre o assunto da educação religiosa. Muitos membros da Sociedade Teosófica, mesmo sentindo que suas crianças precisavam de algo para assumir o lugar ocupado ordinariamente pela educação religiosa, acharam quase impossível colocar a Teosofia diante delas de uma maneira que lhes fosse inteligível. Alguns têm mesmo permitido que suas crianças sejam instruídas através da rotina de catecismos usuais, dizendo que não sabiam mais o que fazer, e que mesmo a maior parte do ensino sendo obviamente inverídico, poderia ser corrigido mais tarde. Esta posição, contudo, é inteiramente indefensável; nenhuma criança deveria desperdiçar seu tempo aprendendo o que depois teria de desaprender. Se o verdadeiro significado interno do Cristianismo pudesse ser ensinado às nossas crianças, seria na verdade muito bom, porque isso seria pura Teosofia.
Tampouco existe qualquer dificuldade real em apresentar as grandes verdades da Teosofia de modo inteligível à mente das crianças. Certamente é inútil, de início, preocupá-la com rondas e raças, com pitris lunares e manasaputras; mas então, por mais interessante e valiosa que toda essa informação possa ser, é de pouca importância na regulação prática da conduta, enquanto que as grandes verdades éticas sobre as quais todo o sistema repousa podem, felizmente, ser tornadas claras mesmo para a compreensão infantil. O que poderia ser mais simples em essência que as três grandes verdades que são ensinadas a Sensa em O Idílio do Lótus Branco?
“A alma do homem é imortal, e seu futuro é o futuro de uma coisa cujo crescimento e esplendor não têm limites.
“O princípio que concede a vida reside dentro e fora de nós, é imortal e eternamente benéfico, não é ouvido, nem visto, nem sentido, mas é percebido por aquele que deseja a percepção.
“Cada homem é seu legislador absoluto, o dispensador de glória ou treva a si mesmo – é o que decreta sua vida, sua recompensa, sua punição.
“Estas verdades, que são tão grandes como a própria vida, são tão simples como a mente mais simples do homem. Alimentai os famintos com elas.”
Poderíamos expressá-las mais concisamente dizendo: ‘O homem é imortal; Deus é bom; da maneira que semearmos, colheremos.’ Mas certamente nenhuma de nossas crianças pode falhar em captar essas idéias simples em seus contornos gerais, mesmo que à medida que cresçam possam passar muitos anos aprendendo mais e mais da imensidão de seu significado pleno. Ensine-se-lhes a grande e antiga fórmula de que ‘a morte é o portão da vida’ – não um destino terrível a ser temido, mas simplesmente um estágio do progresso a ser acolhido com interesse. Ensine-se-lhes a viver, não para si mesmas, mas para os outros – para irem pelo mundo como amigos e auxiliares, imbuídos de amorosa reverência e cuidado por todas as coisas vivas. Ensine-se-lhes a se regozijarem em buscar e causar a felicidade nos outros, nos animais e plantas assim como nos seres humanos; ensine-se-lhes que causar sofrimento a qualquer coisa viva é sempre uma maldade, e que jamais pode ser fonte de interesse ou diversão para qualquer homem que pense corretamente ou que seja civilizado. As simpatias da criança são tão facilmente despertadas, e seu deleite em fazer algo é tão grande que ela corresponde imediatamente à idéia de que deveria tentar ajudar, e jamais ferir, todas as criaturas em seu redor. Ela deveria ser ensinada a ser observadora, e que ela poderia procurar onde a ajuda é necessitada, seja por homens ou animais, e prontamente prover a necessidade tão completamente quanto estivesse em seu poder.
Uma criança aprecia ser amada, e gosta de proteger, e estes dois sentimentos podem ser usados para treiná-la para ser um amigo de todas as criaturas. Ela rapidamente aprenderá a admirar as flores crescendo sem querer arrancá-las irrefletidamente, jogando-as fora poucos minutos depois para secarem à margem da estrada; as que ela colher, retirará cuidadosamente, evitando machucar a planta; ela as conservará e cuidará, e seu percurso pela mata e pelo campo jamais deve ser assinalado por um rastro de botões murchos e plantas arrancadas.
Não esqueçamos também que o treinamento físico da criança é um assunto da maior importância, e que um corpo forte, puro e saudável é necessário à plena expressão da alma evoluindo nele. Seja instruída desde cedo na extraordinária importância da pureza física, de modo que ela possa considerar seu banho diário uma parte tão importante de sua vida quanto sua alimentação diária. Veja que seu corpo jamais seja contaminado com as indecentes abominações da selvageria moderna tais como a carne, álcool ou tabaco; procure-se que ela desfrute com abundância da luz solar, de ar fresco e de exercício. Assim ela crescerá pura, saudável e feliz; e se dará à alma que lhes foi confiada um invólucro de que não venha a se envergonhar, um veículo através do qual receberá somente o mais elevado e o melhor que o mundo físico puder dar – e que poderá usar como instrumento adequado para o trabalho mais nobre e santo.
Como o pai ensina a criança, também será obrigado a dar o exemplo nesta como em outras coisas, e assim também a criança civiliza seus pais ao mesmo tempo que melhora a si mesma. Pássaros e borboletas, gatos e cães, todos serão seus amigos, e ela se deliciará com sua beleza mais do que desejará capturá-los ou destruí-los. As crianças treinadas assim crescerão como os homens e mulheres que reconhecem seu lugar na evolução e seu trabalho no mundo, e cada um servirá como um centro puro de forças humanizantes, gradualmente mudando a direção da influência humana sobre todas as coisas inferiores.
Se assim treinarmos nossas crianças, se formos assim ciosos de nossas relações com elas, desempenharemos nobremente nossa grande responsabilidade, e assim procedendo auxiliaremos no grande trabalho da evolução; estaremos cumprindo nosso dever, não só para com nossos filhos, mas para com a raça humana – não apenas para com seus Egos, mas para com os daqueles muitos milhões que ainda virão.
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